sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Grandes Lagos

Nascido e criado em São José do Rio Preto – SP, admirador eterno dessa bela cidade. Suas praças, avenidas, árvores, prédios, e cada cantinho colorido ou monocromo sempre encantaram esses meus olhos que um dia aqui descansarão.
Rio Preto é uma típica cidade interiorana, de semblante pacato e ventos quentes, com a maioria dos recursos das grandes capitais.Tudo o que é preciso pra viver bem se encontra aqui, e o que aqui não se produz, consegue-se com grande facilidade.
Mas o que deixa o riopretense tão ranzinza? Nunca vi um povo reclamar tanto de seu lar quanto o riopretense. Aquela velha história, o jardim do vizinho é sempre mais verde.

Uma pena, essas pessoas com certeza devem enxergam outra cidade que não a minha. Não vêem as riquezas aqui engrunhidas em muros, livros, bares, prédios, águas e tudo mais que fazem de Rio Preto um lugar especial.




Escrevendo esse post lembrei-me de uma canção que fiz tempos atrás. A letra segue abaixo, o áudio fica para um próximo post.

Grandes Lagos
Tanto distante quanto grande
Ao chegar me esbaldo em água
Sombra fresca não me falta
Terra bela, deslumbrante

Grande árvore na estante
Estampa a foto da infância
No sorriso da criança
A alegria é berrante

Campos verdes, prédios cinzas
Vicinais e avenidas
Me chamam pra passar

Passeando na cidade
Tanto cedo como tarde
Quero sempre na memória essa beleza, meu lugar


Leandro Faustino


*Fotografia por Evandro Rocha.
**Veja alguns trabalhos do fotógrafo em sua página: http://www.evandrorocha.com.br/

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Relacionamentos


Algumas pessoas anseiam por amor incondicional. Outros esperam ser idolatrados e venerados. Existem também os que buscam num relacionamento uma forma de, digamos, aumentar seu patrimônio. Também há aqueles que buscam realizar suas fantasias, mudar de vida, passar o tempo ou simplesmente não ficar só. Ainda bem que para todo ser existe um par. Para quem busca dinheiro, sempre há alguém disposto a pagar por companhia. Para quem quer adoração, existem aqueles que querem servir.

Mas o que mantém um relacionamento ativo? O que mantém um casal unido depois de tempos juntos? Simples. O próprio umbigo. Um relacionamento, como tudo na vida, só acontece se for interessante para todos os envolvidos. A partir do momento em que uma das partes não vê nessa relação suas necessidades atendidas surge o descaso. Não há nada pior para a vida a dois do que a falta de interesse, seja pelo que for. Da conversa que o parceiro só finge ouvir, da comida feita com carinho e engolida numa só garfada, do cafuné rejeitado, de segurar a mão enquanto passeia, do sexo só pra lembrar que ali já existiu um casal.

E são exatamente os detalhes que selam o destino de um relacionamento. Quando esses detalhes são positivos o resultado é um casal feliz, que sorri por qualquer coisa num domingo a tarde, pelo simples prazer da companhia. Sempre apreciei esses momentos. O abraço a qualquer hora. Uma conversa largado na cama. Um filme em dia chuvoso. O beijo que surge de repente. O carinho sem esperar resposta. O sorriso de agradecimento ao ver o parceiro bem.

Mas vocês devem estar se perguntando como posso falar de relacionamento a dois sem falar de amor. O amor é só mais um detalhe, o amor além do brilho é o remendo da relação. Usamos o amor para justificar o injustificável. Quando algum aspecto da relação não agrada nos vem logo à mente a caridade do amor, a segunda chance, o tentar de novo. O problema é quando o tentar de novo se torna a relação. Aí não há amor que junte os cacos.


Leandro Faustino


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Erus


Chegando em meus ouvidos agora o novo disco da Banda Erus de São José do Rio Preto.


O novo álbum entitulado “Cada Vez Mais Perto” traz canções já conhecidas e inéditas da banda que está a 10 anos encantando o público da região dos grandes lagos. A Banda Erus é formada por Thiago (Bateria), Vitão (Guitarra), Cocão (Guitarra), Felipe (Voz e Baixo) e João Fábio (Voz e Baixo), os dois últimos, aliás, dando uma lição de como cantar. A banda faz um rock encorpado e melódico mesclando influencias de diversos estilos musicais. A versatilidade do grupo fica nítida nas faixas O Reggae e Crescer que fogem da veia rock da banda, a primeira, o Reggae música já cantarolada pelo público riopretense e Crescer, a mais recente, que traz uma linha de baixo que demonstra a predileção por melodias trabalhadas.
Em canções como “Pelo Certo” e “Interrogação” a banda demonstra toda sua energia com guitarras trabalhadas, uma cozinha segura, e linhas de vocal que são verdadeiras aulas de como cantar rock. O cd é um misto de diversos sentimentos desses 10 anos de história, trazendo momentos enérgicos, melódicos, calmos e mais intimistas como na canção “Viagem” que proporciona ao ouvinte sentir-se realmente próximo ao som.

A banda Erus segue fazendo sua arte por onde o vento os levar, e se o mundo for um pouquinho justo, esses ventos percorrerão o mundo todo.

Clique aqui para ouvir o cd "Cada vez mais perto"

Site: http://palcomp3.com/erus/


Lançamento do CD:
Dia 15/11 – No teatro Nelson Castro – 20:00 horas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Imprensa Aborta Candidatos


Ao acessar o portal TERRA hoje 07/10, logo na capa me deparei com a seguinte notícia “José Serra comete ato falho e diz ser "a favor" do aborto”. Vamos as considerações.

A frase foi a seguinte: "eu nunca disse que sou contra o aborto, até porque eu sou a favor" – José Serra.

Na mesma noite o TERRA publica uma matéria se retratando. Mostrando que essa não era a intenção do Candidato.

José Serra disse sim a frase acima! Disse com todas as letras ser A FAVOR! E depois acha que pode desdizer e ficar tudo bem, claro, graças à imprensa que dá uma forcinha pra mostrar só a parte que convém. Não é de hoje que os veículos midiáticos gostam de tombar ‘pras direita’. Mas se esquecem que eleição é um circo e em circo não se alimenta animais. Deixem os tucanos se virarem sozinhos.

Vamos a Dilma.

As supostas frases polêmicas foram essas:

‘‘Abortar não é fácil para mulher alguma. Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização’’

Vamos lá, até agora ela não disse ser a favor e tão pouco prometeu a descriminalização.

Outra frase, mesma conversa, mesmo dia.

“O aborto é uma questão de saúde pública. Há uma quantidade enorme de mulheres brasileiras que morrem porque tentam abortar em condições precárias’’

Verdade, passou da hora de tomar providências para que “açouguices” como essas parem de acontecer. As mulheres que procuram esse “serviço” acabam em clínicas precárias ou recorrem a métodos caseiros botando a própria vida em risco.

A única afirmação da candidata foi que não se pode proibir aborto só porque é desconfortável e sofrido para a mulher. A questão é muito mais complexa, é social, é saúde, é econômica e religiosa e é isso que deve ser tratado.

Considerações:

Nenhum dos dois candidatos Serra e Dilma disseram ser a favor do aborto, ou melhor, José Serra até disse, mas como o "imparcial" portal Terra mostrou foi um "ato falho".

Só para acabar com a história do Temer e o filho satanista que os pastores se mostraram engajados em divulgar segue a resposta da Dilma quando questionada sobre sua religião.

‘‘Fui batizada na Igreja Católica, mas não pratico. Mas, olha, balançou o avião, a gente faz uma rezinha’’

Bom, adorador do capeta de verdade não clama por deus nem na turbulência.


A quem interessar o assunto Temer / Dilma / Pastor louco segue o link para um texto meu postado na Rádio Canalha! (clique aqui)

Ou
http://radiocanalha.blogspot.com/2010/09/pecado-eleitoral.html


Leandro Faustino

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Acontece


Sentia o cheiro de alho exalando de suas mãos. Também um pouco de cebola, sabão e gordura. Típico odor do fim do lavar das louças. As mãos ainda úmidas apanharam a velha mochila e a sacola plástica com as mangas que colhera no quintal vizinho. Já eram 19:25 e ainda estava longe de casa. Duas conduções e algumas quadras de caminhada a separavam de seu lar. Aproveitava o caminho, seu único tempo “livre”, para ler. Gostava de romance, embora nunca tenha vivido um, tinha no amor a imagem perfeita, a resolução de seus problemas. Sorrisos, suspiros e emoções no ônibus para Vila Adélia. Quem a via sorrindo, chorando, sentindo prazer, nada entendia.

- Que acontece com essa garota? – Perguntou uma senhora a seu filho.
- Não sei. Mas a deixe, ela parece feliz. – Disse o rapaz que se interessou mais pelas pernas do que pelo livro da moça.

Seus dezenove anos lhe davam além da força pro trabalho, os atributos que fariam qualquer homem desejá-la. Mas um, somente um, naquele ônibus se interessava mais pelo sorriso do que pelo decote. Jair era um rapaz calmo, até demais para sua idade, com seus 25 anos já tinha sua casa, seu próprio negócio, uma pequena livraria na rua mais morta do centro da cidade e um cachorro cego que vivia latindo para um limoeiro que só lhe sujava a calçada. Vivia aos 25 uma vida que a maioria vive aos 70. Não saía, não tinha amigos. Só tinha seus livros e suas folhas secas na calçada.
Depois de 6 meses tomando a mesma condução, Jair criou coragem e lançou-se ao lado da garota que há tempos lhe chamava a atenção. Segurou-lhe a mão na tentativa de um ato cavalheiresco, mas a garota logo se recolheu. Provavelmente envergonhada da mancha de tomate na blusa e o forte cheiro da marmita que não almoçara. Era um dia quente, ela usava uma saia curta e sandálias. Jair nervoso, suava feito um porco e não falava coisa com coisa. Na tentativa de agradar a moça elogiou até o cheiro da comida. Fato que gerou risos nos passageiros que ouviam a conversa já que a essa altura da viagem o ônibus todo fedia a abobrinha. A moça envergonhada pulou no mesmo instante, descendo cinco pontos antes de sua casa.

- Cassandra!!!! – gritou uma amiga que passava pela rua – alto o suficiente para que de dentro do ônibus Jair descobrisse o nome da amada.

Semanas se passaram sem que Jair aparecesse no ônibus, até que um dia, Cassandra, sentada empunhando seu livro – “O Coração não sabe amar” de JP de Alencar – avistou subindo os degraus aquele homem que a envergonhara tanto. Fingiu não ver. Jair se aproximou, desculpou-se e pediu pra se sentar. Diante da negativa, recuou, mas não desistiu. Aguardou semanas até tentar uma reaproximação. Criou coragem, subiu no ônibus, fez o percurso 6 vezes, Cassandra estava atrasada. O relógio marcava 21:00. Jair desistiu, e na sétima viagem desceu no mesmo ponto em que subiu. E assim fez no dia seguinte, esperou pacientemente até que Cassandra surgisse. Do fundo do ônibus Jair observava cada detalhe até que Cassandra desceu. A seguiu, e ela corria, acelerou o passo ao perceber que era seguida. Jair gritou.

- Cassandra!
- Cassandra, por favor!

Ela parou, assustada, mas parou. Ofegante Jair entrega-lhe um livro. Ainda manuscrito.

- Preciso que me ajude. Não consigo acabar minha história.

Ao segurar o livro, deparou-se com o título – Desejos de Cassandra – Ofendida distribuiu empurrões e tapas até que o motorista, pelo retrovisor, avistou a situação e parou o ônibus.Jair foi linchado pelos passageiros.
Enquanto recuperava-se da surra que o deixou três semanas de cama, pensou e pensou sobre sua vida enquanto Cassandra lia o manuscrito, que apesar de ofendida com o título, derreteu-se em lágrimas ao ler o último capítulo. Ali encontrou um pedido de casamento assinado por Jair Paulo de Alencar, o mesmo autor de seu livro favorito.
Com o coração num misto de euforia e culpa correu para a livraria de Jair, a mesma onde comprou o livro. Correu em vão, ao chegar logo viu as portas fechadas. Pela vitrine não avistou nenhum livro nas prateleiras, nenhum sinal de vida naquele prédio.


Cassandra passou o resto de sua vida lamentando o amor perdido, sonhando a vida perfeita que teria se não tivesse espantado o bom moço.


Jair, ao recuperar-se da surra, fechou a livraria e saiu da cidade. Não acredita mais no amor, não escreve e não se aproxima de uma mulher que não o cobre por isso. Ele hoje é dono de um açougue. Passa o dia cobrando a carne que os outros comem e as noites pagando as carnes que saciam suas vontades.



Leandro Faustino

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Outubro ou nada

Época de eleição e já começam os e-mails, são fotos comprometedoras, artigos de jornais, piadas com os candidatos do momento. Tudo isso teria algum valor caso chegasse a nossos olhos com a imparcialidade necessária a esse assunto. Mensagens criticando governos e candidatos, alegando os prós e contras, não passam de barata propaganda eleitoral. E bota barata nisso já que a maioria dos e-mails que tenho recebido são de pessoas comuns que aparentemente não tem ligação alguma com os candidatos.
Meio a todo esse lixo eletrônico que é despejado diariamente em minha caixa de mensagens percebi que independentemente do candidato anunciado (ou denunciado em alguns casos) o objetivo é sempre o mesmo, convencer uma pessoa a ter a mesma opinião do que lhe envia a mensagem. Diante dessa guerra por provar quem está correto (não os candidatos, mas aqueles que os promovem gratuitamente através dos serviços de e-mail) resolvi entrar na dança.
O objetivo dessa mensagem é mostrar que todas as outras mensagens “políticas” (que de política nada têm) não devem servir de base para uma decisão tão importante quanto o voto, uma vez que não passa de pura propaganda. Basear seu voto num e-mail sensacionalista é equivalente a receber um panfleto de um restaurante e durante quatro anos não fazer nenhuma refeição que não seja a do panfleto. Isso não significa que devemos ignorar os e-mails ou panfletos, mas sim, entender que eles não passam de “vitrine”, e que a propaganda não reflete todo conteúdo do produto. A pesquisa de mercado não é valida somente para as compras de bens materiais, mas também para os serviços prestados (sim, serviços prestados, afinal qualquer político na esfera que seja ainda está a serviço do povo, ao menos deveria). Outubro está aí. Minha opinião está formada, não por e-mail ou santinho, mas sim por pesquisa, por ideais e valores que segui minha vida toda.

Está na hora de entender que o defeito de um candidato não torna o outro melhor, de escolher nosso candidato por suas virtudes, não pelos defeitos dos concorrentes.

O VOTO

NUNCA VOTE NULO! Votar nulo é alimentar o inimigo, é a contramão da democracia, só favorece quem está no topo. Pensar que votar nulo é protestar é pura ignorância. Voto nulo não impede a eleição de maus candidatos, só permite que eles continuem na mesma posição que estão.

O brasileiro sofre de um mal que tem arrastado a política nacional por uma mesmice sem fim. O que assistimos constantemente nos esportes, concursos e pesquisas é fato também nas urnas. O brasileiro não gosta de perder. Mas existe fórmula mágica para a vitória? Se existe não conheço, mas o povo se acostumou a uma fórmula que parece bastante simples. Torcer para quem já está ganhando. Assim é mais fácil, sem gozação para o perdedor, não existe frustração da batalha perdida. Conversando com algumas pessoas percebi que o que mais motiva o eleitor é a certeza de que seu voto irá para o “vencedor”.

Mas quem foi que disse que o primeiro é sempre o melhor? Que as propostas do 1º colocado na pesquisa são interessantes para todo o país? Eleição não é boxe, onde vence o mais forte ou corrida, onde vence o mais rápido. Eleição é disputa para ser vencida por quem tem projetos e idéias que mais coincidem com a vontade popular. O problema é que enquanto o povo brasileiro achar que estar do lado que “vence” é mais importante do que suas próprias necessidades, elegeremos sempre o que o jornal aponta como preferido.



Leandro Faustino


* Texto publicado em Agosto/2010 na: http://www.radiocanalha.blogspot.com/
** Visitem a http://www.radiocanalha.blogspot.com/- Informações sobre Rock e outras putarias mais!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eu


Gosto de andar sozinho à noite. Me faz pensar e “prepara” o corpo para a cama. Numa certa caminhada noturna comecei a refletir sobre como cheguei a onde estou. Não local, já que morei a vida toda no mesmo lugar, mas também local (confuso?), pois pra mim o ser humano não é só animal, só raciocínio. O ser humano é coisa, objeto, som, sentimento, lugar, imagem, cheiro, gosto e tudo mais o que se puder imaginar. Tentei então listar o que, ao longo de minha vida (nem tão longa assim), me fez ser quem eu sou hoje.

O problema é resumir sua vida em itens, coisa bem mais simples pros que chegam ao mundo hoje, que consideram seus itens a si. (acho que isso renderia outro post, quem se propõe?)

Então lembrei que são de fato os detalhes que formam um homem, e seguindo esse pensamento, tentei não me prender a nada sentimental, político, econômico, mas sim situações.

Sejam essas situações boas ou más, o importante é que as vivi e aprendi com elas. É isso que me faz quem sou,comer chocolates de madrugada, as conversas no bar com os amigos, música, o cafuné da namorada em minha barba, capuccino ao ar livre, sempre esquecer algo em casa, sempre esquecer algo no trabalho, sempre esquecer, o almoço na casa da vó Zabé recheado de besteiras familiares, não aceitar a opinião do chefe simplesmente pela hierarquia, leite condensado com toddy no congelador, fazer caipirinha sentado no chão, aprender, ensinar, Brahma gelada suando o copo, arroto com azia, sentir cheiro de tudo – até do que não tem cheiro, comer até ter dificuldade para respirar, olhar o céu a noite mesmo que não haja estrelas, cheiro de chuva, sorrisos.


Leandro Faustino, muito prazer.