segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Relacionamentos


Algumas pessoas anseiam por amor incondicional. Outros esperam ser idolatrados e venerados. Existem também os que buscam num relacionamento uma forma de, digamos, aumentar seu patrimônio. Também há aqueles que buscam realizar suas fantasias, mudar de vida, passar o tempo ou simplesmente não ficar só. Ainda bem que para todo ser existe um par. Para quem busca dinheiro, sempre há alguém disposto a pagar por companhia. Para quem quer adoração, existem aqueles que querem servir.

Mas o que mantém um relacionamento ativo? O que mantém um casal unido depois de tempos juntos? Simples. O próprio umbigo. Um relacionamento, como tudo na vida, só acontece se for interessante para todos os envolvidos. A partir do momento em que uma das partes não vê nessa relação suas necessidades atendidas surge o descaso. Não há nada pior para a vida a dois do que a falta de interesse, seja pelo que for. Da conversa que o parceiro só finge ouvir, da comida feita com carinho e engolida numa só garfada, do cafuné rejeitado, de segurar a mão enquanto passeia, do sexo só pra lembrar que ali já existiu um casal.

E são exatamente os detalhes que selam o destino de um relacionamento. Quando esses detalhes são positivos o resultado é um casal feliz, que sorri por qualquer coisa num domingo a tarde, pelo simples prazer da companhia. Sempre apreciei esses momentos. O abraço a qualquer hora. Uma conversa largado na cama. Um filme em dia chuvoso. O beijo que surge de repente. O carinho sem esperar resposta. O sorriso de agradecimento ao ver o parceiro bem.

Mas vocês devem estar se perguntando como posso falar de relacionamento a dois sem falar de amor. O amor é só mais um detalhe, o amor além do brilho é o remendo da relação. Usamos o amor para justificar o injustificável. Quando algum aspecto da relação não agrada nos vem logo à mente a caridade do amor, a segunda chance, o tentar de novo. O problema é quando o tentar de novo se torna a relação. Aí não há amor que junte os cacos.


Leandro Faustino


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Erus


Chegando em meus ouvidos agora o novo disco da Banda Erus de São José do Rio Preto.


O novo álbum entitulado “Cada Vez Mais Perto” traz canções já conhecidas e inéditas da banda que está a 10 anos encantando o público da região dos grandes lagos. A Banda Erus é formada por Thiago (Bateria), Vitão (Guitarra), Cocão (Guitarra), Felipe (Voz e Baixo) e João Fábio (Voz e Baixo), os dois últimos, aliás, dando uma lição de como cantar. A banda faz um rock encorpado e melódico mesclando influencias de diversos estilos musicais. A versatilidade do grupo fica nítida nas faixas O Reggae e Crescer que fogem da veia rock da banda, a primeira, o Reggae música já cantarolada pelo público riopretense e Crescer, a mais recente, que traz uma linha de baixo que demonstra a predileção por melodias trabalhadas.
Em canções como “Pelo Certo” e “Interrogação” a banda demonstra toda sua energia com guitarras trabalhadas, uma cozinha segura, e linhas de vocal que são verdadeiras aulas de como cantar rock. O cd é um misto de diversos sentimentos desses 10 anos de história, trazendo momentos enérgicos, melódicos, calmos e mais intimistas como na canção “Viagem” que proporciona ao ouvinte sentir-se realmente próximo ao som.

A banda Erus segue fazendo sua arte por onde o vento os levar, e se o mundo for um pouquinho justo, esses ventos percorrerão o mundo todo.

Clique aqui para ouvir o cd "Cada vez mais perto"

Site: http://palcomp3.com/erus/


Lançamento do CD:
Dia 15/11 – No teatro Nelson Castro – 20:00 horas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Imprensa Aborta Candidatos


Ao acessar o portal TERRA hoje 07/10, logo na capa me deparei com a seguinte notícia “José Serra comete ato falho e diz ser "a favor" do aborto”. Vamos as considerações.

A frase foi a seguinte: "eu nunca disse que sou contra o aborto, até porque eu sou a favor" – José Serra.

Na mesma noite o TERRA publica uma matéria se retratando. Mostrando que essa não era a intenção do Candidato.

José Serra disse sim a frase acima! Disse com todas as letras ser A FAVOR! E depois acha que pode desdizer e ficar tudo bem, claro, graças à imprensa que dá uma forcinha pra mostrar só a parte que convém. Não é de hoje que os veículos midiáticos gostam de tombar ‘pras direita’. Mas se esquecem que eleição é um circo e em circo não se alimenta animais. Deixem os tucanos se virarem sozinhos.

Vamos a Dilma.

As supostas frases polêmicas foram essas:

‘‘Abortar não é fácil para mulher alguma. Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização’’

Vamos lá, até agora ela não disse ser a favor e tão pouco prometeu a descriminalização.

Outra frase, mesma conversa, mesmo dia.

“O aborto é uma questão de saúde pública. Há uma quantidade enorme de mulheres brasileiras que morrem porque tentam abortar em condições precárias’’

Verdade, passou da hora de tomar providências para que “açouguices” como essas parem de acontecer. As mulheres que procuram esse “serviço” acabam em clínicas precárias ou recorrem a métodos caseiros botando a própria vida em risco.

A única afirmação da candidata foi que não se pode proibir aborto só porque é desconfortável e sofrido para a mulher. A questão é muito mais complexa, é social, é saúde, é econômica e religiosa e é isso que deve ser tratado.

Considerações:

Nenhum dos dois candidatos Serra e Dilma disseram ser a favor do aborto, ou melhor, José Serra até disse, mas como o "imparcial" portal Terra mostrou foi um "ato falho".

Só para acabar com a história do Temer e o filho satanista que os pastores se mostraram engajados em divulgar segue a resposta da Dilma quando questionada sobre sua religião.

‘‘Fui batizada na Igreja Católica, mas não pratico. Mas, olha, balançou o avião, a gente faz uma rezinha’’

Bom, adorador do capeta de verdade não clama por deus nem na turbulência.


A quem interessar o assunto Temer / Dilma / Pastor louco segue o link para um texto meu postado na Rádio Canalha! (clique aqui)

Ou
http://radiocanalha.blogspot.com/2010/09/pecado-eleitoral.html


Leandro Faustino

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Acontece


Sentia o cheiro de alho exalando de suas mãos. Também um pouco de cebola, sabão e gordura. Típico odor do fim do lavar das louças. As mãos ainda úmidas apanharam a velha mochila e a sacola plástica com as mangas que colhera no quintal vizinho. Já eram 19:25 e ainda estava longe de casa. Duas conduções e algumas quadras de caminhada a separavam de seu lar. Aproveitava o caminho, seu único tempo “livre”, para ler. Gostava de romance, embora nunca tenha vivido um, tinha no amor a imagem perfeita, a resolução de seus problemas. Sorrisos, suspiros e emoções no ônibus para Vila Adélia. Quem a via sorrindo, chorando, sentindo prazer, nada entendia.

- Que acontece com essa garota? – Perguntou uma senhora a seu filho.
- Não sei. Mas a deixe, ela parece feliz. – Disse o rapaz que se interessou mais pelas pernas do que pelo livro da moça.

Seus dezenove anos lhe davam além da força pro trabalho, os atributos que fariam qualquer homem desejá-la. Mas um, somente um, naquele ônibus se interessava mais pelo sorriso do que pelo decote. Jair era um rapaz calmo, até demais para sua idade, com seus 25 anos já tinha sua casa, seu próprio negócio, uma pequena livraria na rua mais morta do centro da cidade e um cachorro cego que vivia latindo para um limoeiro que só lhe sujava a calçada. Vivia aos 25 uma vida que a maioria vive aos 70. Não saía, não tinha amigos. Só tinha seus livros e suas folhas secas na calçada.
Depois de 6 meses tomando a mesma condução, Jair criou coragem e lançou-se ao lado da garota que há tempos lhe chamava a atenção. Segurou-lhe a mão na tentativa de um ato cavalheiresco, mas a garota logo se recolheu. Provavelmente envergonhada da mancha de tomate na blusa e o forte cheiro da marmita que não almoçara. Era um dia quente, ela usava uma saia curta e sandálias. Jair nervoso, suava feito um porco e não falava coisa com coisa. Na tentativa de agradar a moça elogiou até o cheiro da comida. Fato que gerou risos nos passageiros que ouviam a conversa já que a essa altura da viagem o ônibus todo fedia a abobrinha. A moça envergonhada pulou no mesmo instante, descendo cinco pontos antes de sua casa.

- Cassandra!!!! – gritou uma amiga que passava pela rua – alto o suficiente para que de dentro do ônibus Jair descobrisse o nome da amada.

Semanas se passaram sem que Jair aparecesse no ônibus, até que um dia, Cassandra, sentada empunhando seu livro – “O Coração não sabe amar” de JP de Alencar – avistou subindo os degraus aquele homem que a envergonhara tanto. Fingiu não ver. Jair se aproximou, desculpou-se e pediu pra se sentar. Diante da negativa, recuou, mas não desistiu. Aguardou semanas até tentar uma reaproximação. Criou coragem, subiu no ônibus, fez o percurso 6 vezes, Cassandra estava atrasada. O relógio marcava 21:00. Jair desistiu, e na sétima viagem desceu no mesmo ponto em que subiu. E assim fez no dia seguinte, esperou pacientemente até que Cassandra surgisse. Do fundo do ônibus Jair observava cada detalhe até que Cassandra desceu. A seguiu, e ela corria, acelerou o passo ao perceber que era seguida. Jair gritou.

- Cassandra!
- Cassandra, por favor!

Ela parou, assustada, mas parou. Ofegante Jair entrega-lhe um livro. Ainda manuscrito.

- Preciso que me ajude. Não consigo acabar minha história.

Ao segurar o livro, deparou-se com o título – Desejos de Cassandra – Ofendida distribuiu empurrões e tapas até que o motorista, pelo retrovisor, avistou a situação e parou o ônibus.Jair foi linchado pelos passageiros.
Enquanto recuperava-se da surra que o deixou três semanas de cama, pensou e pensou sobre sua vida enquanto Cassandra lia o manuscrito, que apesar de ofendida com o título, derreteu-se em lágrimas ao ler o último capítulo. Ali encontrou um pedido de casamento assinado por Jair Paulo de Alencar, o mesmo autor de seu livro favorito.
Com o coração num misto de euforia e culpa correu para a livraria de Jair, a mesma onde comprou o livro. Correu em vão, ao chegar logo viu as portas fechadas. Pela vitrine não avistou nenhum livro nas prateleiras, nenhum sinal de vida naquele prédio.


Cassandra passou o resto de sua vida lamentando o amor perdido, sonhando a vida perfeita que teria se não tivesse espantado o bom moço.


Jair, ao recuperar-se da surra, fechou a livraria e saiu da cidade. Não acredita mais no amor, não escreve e não se aproxima de uma mulher que não o cobre por isso. Ele hoje é dono de um açougue. Passa o dia cobrando a carne que os outros comem e as noites pagando as carnes que saciam suas vontades.



Leandro Faustino